Liberdade cardíaca.

Dia 20 de julho de 2016
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Sobre Textos
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Você me libertou. Não tenho como expressar o quanto estou feliz em finalmente poder dizer essas palavras. Não acho que foi, exatamente, um grande favor, afinal era só o ciclo natural das coisas. Mas você me libertou. Não me entenda mal, o que vivemos sempre será eterno mas eu não preciso mais de você para ser feliz. Você me libertou.

Quando você não se importou o quanto eu precisava ouvir a sua voz, era você me libertando. Quando você não quis me ouvir, era você me libertando. Quando você não me ligou para perguntar como eu me sentiria sobre levá-la na festa, era você me libertando. Quando você nem me apresentou a ela, era você me libertando. Quando você fingiu que não me viu, era você me libertando. Todas as vezes que você pensou em me mandar uma mensagem e não mandou, era você me libertando. Quando você não me falou tchau, era você me libertando. Quando você apertou meu braço disfarçadamente porque não tinha coragem de simplesmente balançar a cabeça e reconhecer minha existência, era você me libertando. Quando você me usou como desculpa para se afastar das pessoas que se importam com você, era você me libertando.

Eu não preciso mais de você para ser feliz, porque você libertou. Quando eu era a única pessoa para quem você queria contar sobre sua faculdade e você não me ligou, era você me libertando. Quando você deu seu casaco pra ela e eu fiquei com frio, era você me libertando. Quando eu passei tão mal que vomitei por um dia inteiro e meu corpo ficou dolorido como quem foi atropelado por um caminhão e eu não pude te ligar porque eu não faço ideia de quem você é, era você me libertando.

As pessoas tem o costume de procurar um novo amor para superar um antigo. Acham que uma presença diferente vai curar a ausência deixada por quem se foi, que uma amor diferente vai preencher com sorrisos, cozinha cheirando pão fresco. As pessoas acham que um amor diferente vai cuidar da ferida aberta que pulsa e sangra como se tivessem jogado sal sobre ela. Acho engraçado quando meus amigos terminam um relacionamento e logo depois de um mês já estão namorando outras pessoas. É fácil apagar as fotos do instagram e começar tudo de novo, deletando uma história de amor para começar uma nova. Mas não é bem assim que funciona.

É, mas não dessa forma.

Quando pegamos nosso coração, essa parte do corpo que mantém todo o resto vivo, e entregamos nas mãos de uma pessoa que não está conseguindo cuidar de seu próprio órgão, que não está conseguindo segurar em suas mãos o próprio coração, nós estamos criando um assassino. Não podemos criar um assassino, as pessoas merecem viver. Para entregar nosso coração nas mãos de alguém é necessário, em primeiro lugar, que ele esteja conosco, e você me libertou. Você me entregou meu coração de volta, ensanguentado, quase sem pulsar, remendado, cortado, ferido e divido em três, você estava me libertando.

A culpa foi minha, de ter transformado você em um assassino de corações. Ninguém devia ter tanta responsabilidade em mãos. Eu devia ter segurado meu próprio coração e cuidado dele eu mesma, mas o entreguei a você, que por um longo tempo não soube o que fazer com ele. Mas você me libertou. Eu não sinto mais dor, eu não sangro mais, e sinto esse coração pulsar tão forte e costurado como nunca esteve, sadio e liberto eu não posso evitar de te agradecer. Antes eu via flores em você, mas essa liberdade cardíaca me deu uma nova perspectiva das coisas, e eu vejo flores dentro. De mim.

Precisamos parar de entregar nossas coisas mais frágeis e preciosas àqueles que não sabem, e não querem aprender, como cuidar delas. É verdade o que dizem, realmente é necessário um novo amor para curar um coração assassinado. É o amor próprio, e ele liberta muito mais que qualquer outra coisa.