Se eu não te ver no Natal

Dia 4 de setembro de 2016
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Sobre Textos

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Escreve,

Escreve,

Apaga,

Apaga,

Escreve,

Apaga

Apa

A

Esse ano tem Natal. Mas é claro que esse ano tem Natal, mas o que é isso? Todo ano tem Natal.

É, acho que ainda assim essa não foi a melhor forma de começar esse texto. Pra falar a verdade eu não sei muito como começar a dizer isso que eu preciso dizer, mas é uma daquelas coisas que precisam ser ditas – e dessa vez também é uma que precisa ser ouvida -, então acho que decidi começar a escrever pra ver no que ia dar, e cá estamos nós. Quer dizer, o que eu realmente, realmente quero dizer, é que esse ano tem Natal. E ele está chegando.

Ainda é Setembro quando eu escrevo – e apago – essas palavras, mas será bem depois que você as lerá. Se vier, algum dia, a ler. A comunicação acabou ficando meio unilateral depois de um tempo, né? Engraçado, sempre achei que eu fosse boa em me comunicar, apesar da gagueira, mas pensando bem você não pôde desvendar minhas entrelinhas depois de um tempo, não acho que quis.

Ainda tenho dúvidas sobre o que dizer no seu aniversário. Pensei em mandar uma carta, sabe? Eu achei aqui na minha infinita estante o primeiro presente que você me deu. Foi há muitos anos atrás quando seu salário ainda era R$250,00 e todo gasto era muito caro, também não éramos namorados nessa época mas no meu aniversário você não mediu esforços pra me fazer feliz e comprou um livro que eu estava querendo ler há muito tempo – Formaturas Infernais, é o nome do livro.

Guardo-o com muito carinho por causa da dedicatória “A razão sempre parece ser o melhor caminho, mas lembre-se que o coração sempre tem razão.”, eu chorei ao ganhá-lo. O abracei – você, e ao livro – e disse que um dia eu escreveria o livro com a nossa história e essa frase estaria nele. Pensei que seria um bom presente de aniversário esse ano escrever uma carta com essa frase, mas não sei se você acredita nela como um dia acreditou, acho que não.

Algumas coisas são reais quer nós acreditemos nelas ou não, e o fato de nós não acreditarmos não faz com que se tornem menos reais. Esse ano, por exemplo, tem Natal. Não vou comer ameixas ou guardar suas sementes, não vou organizar a mesa de frutas e não vou comer farofa ou sobremesa com a sua família. Não vai ter visita inesperada no trabalho à meia noite, dessa vez vai ser muito diferente, nem sei dizer se vai ser Natal de verdade, é preciso atualizar as definições de celebrações.

Ai vai chegar o ano novo, e, Deus! como isso enche meu coração de expectativas. Eu simplesmente amo as celebrações, é como se a minha alma ganhasse luzes coloridas e várias decorações e ficasse andando enfeitada e reluzente por aí nessa época do ano, mas em algum lugar ali no fundinho dessas luzes eu vou esperar a sua mensagem e me perguntar se você estará esperando a minha – a verdade é terrível, mas eu finjo que não.

E é assim que vamos criando nossas novas realidades, com as versões fragmentadas das verdades que escolhemos acreditar.

Escreve,

Apaga,

Escreve,

Escreve,

Não, não! Melhor apagar isso aqui.

E a verdade é doce – cheia de possibilidades – e terrível; dolorosa. Em meados de Dezembro as versões de verdades que escolhemos acreditar já estarão consolidadas o bastante. Parte de mim teme que nunca poderemos revertê-las. A verdade é que eu ainda estarei guardando seu presente comigo, aquele mesmo que não pude entregar no ano passado. Não acho que um dia poderei me desfazer dele, tampouco acho que possa entrega-lo. Não sei o que fazer, em meados de Dezembro seu aniversário já terá passado há um tempão e eu, que não terei mandado, ainda estarei em dúvidas sobre aquela carta de aniversário que eu queria te escrever mas acabei apagando várias vezes.

Mas, se de tudo eu não te ver no Natal – não vou – quero que saiba que vou estar muito feliz nessa época do ano. Você sabe, com todas as músicas, luzes e aquele calorzinho no coração que me deixava flutuando de alegria sem motivo aparente só porque o mês de Dezembro chegou. Lembra disso? Eu ficava eufórica nesse mês todos os anos e todos os anos você falava que era só um mês normal.

E, para o caso de eu não ter mandando nenhuma carta no seu aniversário – não vou ter mandado e isso provavelmente acabou comigo – saiba que o Scooby Doo ainda me faz companhia às vezes, e que eu espero ver vocês juntos um dia no futuro, saiba que eu espero muito que você seja feliz. Muito, muito, muito feliz. O meu consolo é a ideia de que está sendo exuberantemente feliz.

E, para o caso de não haver mensagens de Ano Novo, saiba que eu espero que o Ano Novo traga conquistas inesperadas, pessoas surpreendentes, oportunidades inimagináveis e uma realidade – não fracionada – honesta e quentinha, como se luzes de natal estivessem rodeando o ano todo com esperanças e incentivos.

Eu sempre vou amar essa época do ano mesmo quando não há ameixas ou mesa de frutas, ou farofas ou visitas inesperadas no seu trabalho à meia noite. Eu sempre vou amar você, e o Scooby e o primeiro livro que você me deu – Formaturas Infernais. Eu sempre vou escrever cartas, e apagá-las, que é pra você não saber nunca que não importa quão feliz eu esteja, quantas editoras queiram publicar meu livro, quantas turmas novas eu esteja dando aula, quantos textos eu seja capaz de escrever por semana, quantos acessos ganhei por mês e quantos quilos eu perdi, as conquistas da minha vida não parecem tão grandiosas quando não posso dividi-las com o meu melhor amigo.

Você não pôde desvendar minhas entrelinhas depois de um tempo, então, acho que – e só acho mesmo pois escrevi e apaguei muito para dizer com 100% de certeza – o que eu quero dizer é que, se eu não te ver no Natal eu espero que você esteja feliz, e que a fração de realidade que você escolheu acreditar lhe seja suficiente, que o seu coração flutue por ai como o meu no Natal, e que o seu aniversário e o Ano Novo te tragam conquistas inesperadas, e verdades – inesperadas -. Algumas coisas são reais quer nós acreditemos nelas ou não, e o fato de nós não acreditarmos não faz com que se tornem menos reais, e nada vai tornar menos real o fato de que olhar pra você fazia, sempre fez, o meu ano inteiro vermelho e verde e perto de você eu era luzes flutuando. É preciso algumas formaturas mais infernais do que outras pra entender.

Se eu não te ver no Natal, Feliz Natal! E, em caso de dúvidas é sempre bom lembrar: a razão sempre parece o melhor caminho, mas o coração sempre tem razão. Nem sei pra que estou falando isso, melhor apagar tudo outra vez, afinal, meu melhor amigo saberia disso mesmo se tivesse escolhido viver numa versão fragmentada da realidade em que a verdade é outra.

Apaga,

Apaga,

Apaga,

Apa

A

Se pelo menos eu fosse te beijar no Ano Novo, faria um pedido. Mas tudo bem, ano que vem tem Dezembro, e luzes e farofa e ameixa tudo outra vez. Mas por enquanto, bem, pode ser todo torto mas esse ano tem Natal. Mas é claro que esse ano tem Natal, mas o que é isso, menina? Todo ano tem Natal, e luzes, e farofa e ameixa.

Eu já disse luzes? São muitas!

  • dia 4 de setembro de 2016

    Eu tô chorando?! Meu Deus, como eu amo tudo que você escreve. Porque ja disse milhões de vezes que você me faz sentir cada palavrinha, cada momento. Eu quero te abraçar muito forte depois desse texto, não só pelo que está escrito ai, mas por tudo que me causou e, principalmente, por ser você.

    P.S quando publicar o livro não esquece que eu quero a primeira edição, autografada.

    • Carol Santana
      dia 4 de setembro de 2016

      @Cecília Maria, A saga desse livro já dura quase uma década, Ceci! Mas estou feliz em anunciar que ela pode (e espero que esteja) finalmente chegando ao fim! Você vai ser a primeira a saber, não se preocupe! Ainda lembro como se fosse ontem quando eu deixei o Caixa e comecei o Horinhas como você foi querida (como sempre) e como apoiou, é uma leitora (AMIGA) que eu tenho orgulho de ter. Obrigada por tudo! <3