Bagagem

Dia 3 de janeiro de 2016
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Sobre Textos
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É incrível o que alguns meses podem fazer na vida gente. É confuso como a gente percebe quem importa e quem não faz tanta falta assim. E é mágico como pode um ano começar de um jeito e terminar totalmente diferente como se muito mais do que 365 dias houvessem se passado. Parecem 6 milhões de dias porque é muito díspar de quando começamos, do que nos lembramos.

Mas passam-se os dias, e passam-se os meses, e até os anos – com toda sua lonjura, eternidade e distância um do outro – vão se passando. E é bom que passem, porque a gente sempre pode usar de um pouquinho mais de esperança. Você sabe, aquelas superstições de ano novo não funcionam nunca, mas é tão importante para nós que acreditemos nelas.

De um mês para o outro eu mudei. Achava, por exemplo, que quando a minha avó diz que ninguém morre de amores ela estava certa. Hoje eu sei que ela está errada, e a gente morre sim. Morre de amor, morre de dor, morre de novo. Porque é só através da morte que podemos renascer e é evidente que eu não sou mais a mesma pessoa. O fogo da dor queima em nós e como uma fênix a gente morre, no meio do sofrimento e da agonia se perde ali um pedacinho do eu, do tu.

E quando abaixa a poeira e a gente acha que é só o pó, eis que ressurge. E é totalmente diferente. RIP eu do passado, Long Live eu de hoje. E seguimos crescendo. Não é uma mudançazinha que aconteceu e acabou. Cada dia aprendemos algo novo sobre nós, ou sobre o mundo, ou sobre as pessoas ou sobre a vida, e, principalmente, sobre o amor.

Eita, O Amor! Taí só pra acrescentar na bagagem que vamos acumulando ao longo dos anos. Bagagem de fotos, de livros, de experiências, de amores, de praias, de receitas, de memórias, de diplomas, de presentes, de lições, de amigos, de canções, de sorrisos, de amores, de abraços, de quotes, de globos de neve, de cartas, de carimbos, e de lágrimas.

É por isso que embora doa em nós não precisamos tentar apagar quem nós fomos. Primeiro porque não precisamos ter vergonha disso, e segundo porque é essa bagagem que nos permite amadurecer para nos tornarmos quem somos hoje, ou quem seremos um dia. É na coleção dessa bagagem que vemos o que é pesado demais para carregar, e o que não podemos deixar para trás.

E mesmo na dor da morte, precisamos velar e enterrar esse eu, porque é a única forma de ver o renascimento. E acontece todos os dias. Na curiosidade, no ir adiante, no acreditar, no se apoiar em alguém. São tantas coisas que nos fazem ter esperança. São tantas coisas que batem lá no fundo da alma e voltam pra superfície como um tornado revirando tudo que no caminho. São tantas coisas que nos transformam. Tantos paradigmas que quebramos. Tantas causas que apoiamos. Tantas coisas que aprendemos. Tantas pessoas que amamos.

A vida só segue se você permitir que ela siga. A morte pode acontecer das mais diversas formas. Vem numa flor murcha, num pôr-do-sol, numa borra de chá no fundo da xícara vazia, num olhar, numa season finale, num aeroporto. De tantas formas que vejo aprendi a vê-la dentro de mim, mas a dor do adeus vira poesia, porque graças a ela temos a oportunidade de respirar novamente.

Podem levar horas, dias, meses ou anos. Mas a chama queima novamente, e o renascimento acontece. Se você está passando pelo luto agora espero que saiba que ele vai passar e uma nova pessoa vai nascer dentro de você e quem tu era vira bagagem.

A esperança vem nas mais diversas formas, e a gente nunca sabe onde ela vai aparecer de novo. Eu espero que ela esteja aqui comigo, e que você a veja, identifique, e a guarde contigo. Feliz você novo! Espero que nos encontremos novamente na próxima esquina, ou mais adiante – aonde a próxima dose de esperança estiver escondida.

  • dia 3 de janeiro de 2016

    Oi, moça!

    Posso estar errada, mas identifiquei muita melancolia nesse texto. Sei que ele é sobre o oposto, a alegria de ter um futuro, mas notei muitas nuances de saudade. Acho que 2015 foi um ano de muito aprendizado pra gente, né? E é claro que, de um mês pra outro, muita coisa mudou. E, se falarmos de um ano para outro… Nossa, nem éramos mais aquelas pessoas. Eu acredito que a gente muda, porque a vida é um fluxo e vai nos levando para onde precisamos aprender mais. Precisamos passar pelas maiores alegrias e pelo fundo do poço, porque é bem isso que você disse: tudo isso é a nossa bagagem. Quem fomos é a nossa bagagem do hoje e, felizmente, podemos escolher com mais sabedoria o que fazer a partir daqui. Eu espero que eu sabia o que fazer de agora em diante e desejo o mesmo pra você <3

    Love, Nina.
    http://ninaeuma.blogspot.com/

  • dia 4 de janeiro de 2016

    que em 2016 possamos renascer Cah, que seja um ano de escolhas certas e vibes boas!
    bjo

  • dia 5 de janeiro de 2016

    Verdade, este texto lindo disse tanto em poucas linhas. Acho que só quem já passou por esse tipo de experiência consegue falar com tanta propriedade sobre. É admirável que mesmo sentindo tudo isto, conseguiu enxergar não apenas o lado ruim, mas todos os lados desta história. Espero que continue sempre firme e corajosa, como se mostru.
    Beijos!

    • Carol Santana
      dia 6 de janeiro de 2016

      Obrigada, @Allana Império! Também espero.
      Sou daqueles cujo copo é sempre meio cheio e nunca meio vazio, sabe?
      Feliz Ano Novo, Flor!

  • Bia
    dia 25 de janeiro de 2016

    Texto muito verdadeiro! No dia-a-dia a gente nem percebe, mas depois de meses olhamos pra trás e percebemos o quanto mudamos, é incrível.
    Parabéns pelo blog!
    www,minhasleituras.com