truth by mckinnon 2×3

Dia 1 de março de 2018
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Sobre Textos

Eu sentei na frente do mar e eu o observei por uma hora, vendo as ondas irem e virem. Essa é a história de como esse texto veio até mim, um grão de areia por vez. Enquanto eu contemplava o horizonte e pensava sobre as coisas infinitas, eu percebi quão importante é que as coisas fortes e avassaladoras nos atinjam em ondas.

Para que não nos destrua.

Somos frágeis e poderíamos facilmente ser desmembrados por ventos mais fortes que nós, é por isso que tempestades vem em ondas.

Enquanto eu enterrava meus dedos na areia sentindo meus dedões afundar na água a medida que as ondas i-a-a-a-a-am e vinh-a-a-a-a-am, eu entendi um milhão de detalhes específicos da vida que nunca antes pareceram particularmente importantes.

A areia é fofa.
Ela absorve as ondas e devolve tudo aquilo que é muito grande ou desimportante para aquele momento.
Ela manda de volta.

Todo o sal, toda a areia, toda a espuma, todas as conchas, todas as algas. Por ser fofa a areia absorve apenas o que ela pode. E vai com a correnteza, o que quer que seja que precisa ir. É fria quando está frio, e ao sol fica quente. Um grão de areia quase não é notado, pode não fazer tanta diferença no oceano, mas se você o coloca no lugar certo, com seus iguais, bem onde ele pertence, vai segurar todo um oceano e retirar dele apenas as melhores coisas.
A areia se adapta.

Enquanto eu observava o oceano i-i-i-i-ir e v-i-i-i-i-ir, também me dei conta de quão poderosa a água é. Veja bem, se você for considerar os quatro elementos talvez pense que a água é o menos perigoso: não dá pra construir casas sobre ela; não dá pra usar como uma arma; não dá pra respirar. Mas dá pra colocar um barco sobre, e chegar a lugares. Dá pra beber. Esteja certo de que onde há água há vida.

A água é forte, sim. Mas toda a sua força depende de fatores exteriores à ela: como a lua – por vezes longe demais para ser vista -, ou o vento – nunca visível, exceto pelos estragos que faz. O potencial do oceano é ilimitado, mas não depende apenas de si mesmo. Ele trabalha junto com todo um ambiente que foi pensado e feito para ajuda-lo a alcançar todo potencial que ele tem.

Eu poderia – e possivelmente irei, no futuro – descrever muitas outras percepções que se apresentaram a mim e explicaram a si mesmas naquele dia que sentei em frente ao mar. Eu vi o horizonte, e me fez perceber a importância das coisas eternas – que, eventualmente, chegam sim ao fim – e eu também contemplei o céu e vi nuvens protegendo pequenos grãos de areia de se queimarem e machucarem os pés das pessoas. Eu vi coqueiros, siris, e, na maior parte do tempo: vi ondas.

Tudo na vida vem em ondas.
Toda a alegria: nunca vem de uma vez só.
Toda a dor: nunca vem de uma vez só.
Toda felicidade que você vai encontrar, logo ali na esquina, colina abaixo, perto do lago: vem em ondas.
Todo sofrimento que você se nega a encarar, escondido debaixo da cama, escrito numa carta nunca lida: vem em ondas.
Todo progresso que você já fez na vida até hoje precisou de um primeiro passo: a primeira onda, antes de inundar toda sua vida com os resultados.

Há também grande beleza nas tempestades. Elas abalam estruturas e tiram coisas de seus lugares, deixando para trás só o que há de mais essencial: as coisas que se recusam a afundar se rearranjam em uma nova ordem no espaço. E elas mantem a correnteza fluindo. Mas as tempestades também vem em ondas: começam com uma nuvem no céu, depois com uma gota de chuva. Um raio aqui, um trovão ali.
A tempestade acontece por etapas.

Eu sou quase como o próprio oceano.
Eu sou poderosa, e eu destruo coisas exteriores a mim, e faço com que se quebrem.
E eu também dependo de fatores que não posso controlar.

Eu venho em ondas. Minhas tempestades, minhas dores, minhas alegrias.
Eu às vezes absorvo as coisas um gole de cada vez, como a areia.
E às vezes, em certas tardes de sábado, quando eu olho pro horizonte de um mar azul profundo, é ali, bem ali, com meus pés na areia e meu cabelo esvoaçando no vento que sopra no meu rosto eu também me torno infinita.

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Esse post foi traduzido da coluna que eu posto em inglês lá na Página do Blog no Facebook. #truthbymckinnon é uma série de textos poéticos que tem por função divulgar arte. Lá no facebook você confere ilustrações incríveis e um monte de sensações, em inglês e português. Tá esperando o que? Curte lá pra receber todos os textos porque eles não vem pro blog, esse foi só pra ter um gostinho. Pela hastag no facebook você também pode ler os outros episódios :)