para todos os garotos que já amei [não é a lara]

Dia 21 de março de 2021
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Sobre Textos

Querido julio, misteriosamente ainda encontro palavras para te entregar. Não sei como é isso, mas sei que você foi o primeiro, o tipo de primeiro que só existe por causa da esperança de que outros não venham a existir, e o fato é que porque eles existiram, esses outros, nada nunca mais foi como costumava ser.

Mas sei que tudo bem. Hoje sei. E me foram muitas as ocasiões em que eu não soube disso, e essa descoberta me custou carne, sangue e suor, mas principalmente lágrimas. A boa notícia, julio, é que depois de todo esse tempo elas encontraram outros destinos e me consola saber que apesar de tudo aprendi a recuperar a sensibilidade que ter toda a carne rasgada e o coração recosturado à linha me tomou.

Eu jamais te diria, julio, que me arrependo de nós, mas não sei até hoje se posso dizer que não me arrependi de você, pois o que exatamente era a sua parte no nós? Nunca entendi depois que você foi embora e eu remendei sozinha tudo que a sua ausência partiu – mesmo que alguns rasgos eu ainda não tenha descoberto ou entendido completamente até agora e de repente algum vendaval escancara uma ferida que você me deu antes que eu tivesse tempo de identificá-la. Meu kit de costura já se renovou muitas vezes na confecção dessa imensa colcha de retalhos que teimo em manter me aquecendo.

Para você, julio, entreguei tanto mais do que poderia sonhar em ter. Sangrei. Rasguei. Afoguei. Mas era Justin quem repetia diversas vezes “é tarde demais para se desculpar – e eu te amei, como o fogo vermelho que agora se torna azul.” Nunca me esquecerei. Especialmente porque você recebeu a maioria das minhas palavras, me fazendo sentir tantas coisas que somente a escrita fazia ter sentido – e eu a perdi ao perder você, o que me custou mais que todos os corações partidos que já tive – ela foi embora por um tempo, já que eu não podia ter nada que me associasse a tudo que eu era quando te amei. Mas não estou mais me segurando na sua corda, e embora meus pés continuem flutuando fora do chão, as asas agora são minhas.

Querido john, eu falei que jamais gastaria qualquer outra palavra para falar de você. Menti sem saber, por isso vou tentar usar a menor quantidade possível, já que você não merece nenhuma delas.

Agradeci algumas vezes por você ter me ajudado a descobrir o amor outra vez, jonh. Mas foi só porque eu não fazia ideia de quanto potencial destrutivo você guardava nas suas palavras doces e superficialmente acolhedoras. Eu quis tanto acreditar que você podia me amar, que eu tinha o que precisava, que eu podia ser o que você valorizava, que eu merecia qualquer coisa que fosse que você chamou de amor – e isso foi a minha parte da culpa.

Vou admitir que você me encontrou num momento frágil demais e talvez minhas defesas não tivessem estado completamente a postos para proteger tudo aquilo que você me tomou ao saquear meu coração e roubar coisas em mim as quais nunca te dei o direito de tocar, muito menos possuir. Mas mesmo essa confissão de culpa não te isenta de tudo aquilo que você poderia ter feito e não fez, e de tudo aquilo que você poderia ter escolhido não fazer e fez.

Amei julio o suficiente para perdoa-lo e me esquecer, mas o que você me tomou nunca vai deixar de me fazer falta, e não sei se algum dia poderei seguir sabendo de tudo aquilo que eu deixei de ser porque me faltava a coragem que você levou.

De poucas pessoas com quem cruzei nessa vida, tendo amado-as ou não, posso dizer isso como posso a seu respeito, john: Eu nunca deveria tê-lo amado, e mesmo tendo descoberto muito depois quanta dor você podia carregar e inferir, espero que eu nunca tenha que vê-lo novamente.

Aqui eu ainda repetia diversas vezes as palavras de Haley, que me lembrava inúmeras vezes por dia por dia que era apenas uma faísca mas era suficiente para me fazer continuar iluminando meu caminho, mesmo na escuridão, mas essa voz da Haley não era pra você, e guardarei para sempre também o silêncio com o qual você me deixou, apesar de tudo que nunca parou de gritar em mim depois do nosso encontro.

Querido jim, não sei por onde começar, o que é raro. Quase nunca me faltam palavras, mas ainda acho, até hoje, que apesar dos arranhões a melhor coisa que eu poderia te dizer é obrigada. Você foi uma cura, jim, um sossego, uma rede de tecido macio com brisa boa em um pomar, em um domingo.

Curiosamente, mesmo não tendo te amado tanto quanto sei que poderia, ou conforme tanto amor que sou capaz de expandir e multiplicar o tamanho do meu coração para caber – e então gerar mais que se escorre um pouco pela tampa – ainda assim nunca me doeu tanto deixar alguém. A terceira vez é um charme, costumam dizer. Deve ser mesmo, porque nunca conheci ninguém mais amável e doce do que você.

Não cabe em mim toda gratidão que tenho por você ter me devolvido a capacidade de acreditar nas pessoas, no amor, nos relacionamentos. De acreditar que as coisas não precisam doer sempre, que elas podem ser leves, que elas podem ser boas. Me impressiona o quanto eu fui cuidada quando me permiti ser amada por você – e mesmo assim sabendo que eu nem fui o amor da sua vida, como você esperou que eu fosse. Sei, portanto, que você, como eu, ainda tinha mais amor pra dar.

Eu acho, jim – não, acho não! Eu sei! Eu sei, jim, que se uma coisinha de nada tivesse sido diferente, todo o resto também seria, como Taylor me lembrou um dia desses – e aquele nosso último abraço teria sido simplesmente um até logo. Mas eu não quero, nunca quis, um amor que não me custe nada, e apesar do muito carinho com o qual você sempre me tratou, eu não poderia ter aceitado alguém que facilmente abre mão de mim como se não valesse a pena lutar para que eu ficasse.

Por que eu não mereci a batalha? Por que foi tão fácil seguir sem me pedir pra ficar? Sem que te custasse nada abrir mão de mim? Poderia ter sido você, aquele que me pede e minhas defesas caem, aquele por quem eu volto a ser uma garota apaixonada que escreve textos e textos e não tem medo dos sentimentos, porque sabe que também há um outro que abriria mão de tudo só para poder me abraçar novamente. Mas foi como ela disse, você conheceu outra mulher por aí, a levou pra casa, e embora nós realmente fôssemos uma coisa diferente, não foi dessa vez. Teria sido divertido, jim. Teria sido doce sim, com gosto de mochi de morango do whole foods, ou tiramissu daquele nosso restaurante italiano cujo nome lembrar amor.

Te amei muito. Mais do que eu achei que conseguiria doar a alguém depois de tudo – principalmente depois do que não está escrito aqui – e foi essencial que nossos caminhos tivessem se cruzado para que eu acreditasse novamente em tudo o quê em outros tempos não teria sido necessário você me dizer pois eu saberia. Nem de longe foi tudo que eu poderia ter amado, porque infelizmente me contentei com a superfície e aconteceu de eu não escolher me lançar tão profundamente na vida de alguém que jamais teria lançado âncora para fazer porto em mim. Mas ainda te desejo um milhão de finais felizes, seu coração bom me curou e todos os dias isso faz diferença, desde quando eu não sabia que era isso o que você tinha vindo fazer.

Querido James, creio que ainda não tenha recebido todo aquele maço grosso de envelopes selados com amor e lágrimas, envoltos por um barbante, naquela velha caixa que guardo para você – agora já por tanto tempo. Sendo sincera algumas cartas foram dadas a outros caras, com quem te confundi, mas a caixa ainda é sua – acredito que o amor que eu sempre tive por você desde aquela época, antes de saber seu nome, é o motivo pelo qual escrevi tudo aquilo, e tudo aquilo outro desde então, e também isso aqui.

Talvez você acabe lendo isso aqui primeiro, James, antes que eu te entregue todas as palavras que te escrevi ao longo dos anos por conta do que a Robin e a Cris Miller me ensinaram, mas mesmo a Cris precisou esperar o Ted, então acho que ainda não chegou a hora de a minha espera por você acabar. O que me preocupa as vezes é se você está tão certo assim sobre mim quanto eu estou sobre você. Talvez alguém mais desavisado possa se contar com menos, mas não eu – e espero que não você.

Imagine, James, acabar amando alguém que nunca poderia ter entendido a coisa toda sobre o cheiro dos livros novos – e especialmente dos velhos – e que talvez esperasse para sempre uma oportunidade ideal para realizar sonhos – o que quer que isso signifique. Imagine, acabar amando alguém que não acredita nesse tipo de magia e encantamento que só pode vir do amor, da fé e da coragem combinados em um sentimento só cujo nome ainda não sei. Imagine!

Não sei onde você está, não faço ideia de quando vou vê-lo. Mas posso apenas concluir que esse nosso primeiro encontro não aconteceu ainda, pois acredito – não, acredito não, sei! pois sei que você não é alguém que abriria mão de mim a ponto de ter embarcado em alguma aventura maluca comigo e ainda duvidar do meu coração.

E eu acredito, James. Acredito mesmo.

Não é todos os dias, e nem sempre com a intensidade que talvez eu gostaria. Mas já recuperei uma boa parte do que os outros levaram, e também deixei de entregar o que era apenas pra você, na esperança de que se eu os amasse muito eles se tornariam o que apenas você já é. A chave é sua, mas não acho que você vai precisar. Para você a porta sempre esteve escancarada, mas você pode pendurar essa única chavinha de ouro quando entrar, o gancho está ao lado do batente, na sala. Não se esqueça de tirar os sapatos, mas uma vez aqui pode andar descalço. Pode dançar também. O chão está limpo. Tem aquele chá que eu gosto de tomar no fim do dia, naquele horário em que o sol fica mais bonito, você sabe – na minha mente você também gosta dessas coisas.

Não sei como vou saber quando você chegar, mas acho que vou saber sim, porque você vai saber que sou eu e isso muda tudo frente a todos que tiveram tantas dúvidas. Achei por tanto tempo que já tinha ouvido todas as músicas de amor do mundo, chorado com todas canções de coração partido, escrito todas as poesias e secado lágrimas com pergaminho e nanquim de todas as formas que eram possíveis. Mas sendo sincera, James, o que você e eu temos pra viver não se compara com nada disso que já passou, porque é a nossa história combinada, para muito além do que você ou eu somos.

Me espere, acho que não estou muito longe agora, mas sabendo que você vai ser o último, me cuido com atenção para não te confundir com nenhum transeunte de passagem por aqui. O kit de costura vai estar pronto, a linha já está acabando, e a agulha costura e remenda as mesmas coisas, de novo e de novo, por isso já sabe por onde ir – mas eu não acho que vou precisar mais dele. Ainda acredito em tudo aquilo que te escrevi da primeira vez, muito antes de saber que era pra você, todos aqueles anos atrás. Ainda te amo daquela forma que me resgata e me faz acreditar, como da primeira vez, muito antes de saber que esse amor era pra ter sido seu, muito antes de eu pensar em dá-lo aos que chegaram antes. Espero que você me mostre outras músicas, e que ao invés de todas as que citei e ouvi e chorei até aqui, as próximas canções de amor sejam agora sobre nós, ao invés de sobre mim.

Para julio, john e jim – para aqueles que não citei também – não era eu, de modo que também não poderia ter sido vocês. Mas é assim mesmo, entregamos todo o amor na tentativa de que haja algum do outro lado para nos entregar algo também, e nem sempre é para a pessoa que deveria recebe-lo. É que o amor não consegue ser espelho – ele é sempre um balde furado com uma torneira pingando, e o balde enche a torneira – que torna a encher o balde. E eu sempre tentei colocar oceanos dentro de ribeirinhos que expandiam demais tentando comportar minha imensidão.

Pra gente nunca mais se esvaziar, James. Obrigada por tudo que você já me ensinou, mesmo que eu ainda nem tenha te amado tudo ainda; até aqui foram só respingos e gotas, mas te espero, pro nosso mergulho.