I have this thing where I get older but just never wiser, midnights become my afternoon.
Pode ser por todo o tempo que passamos juntas, Taylor e eu, sendo depois das 3am ou correndo no parque 5:45am com a primeira leva da terceira idade ativa, mas eu também tenho essa coisa de ficar sempre mais velha mais nunca mais sábia. Sentada aqui na última madrugada antes de acordar com 29 anos eu não posso interromper os pensamentos – enchentes deles de uma vez e depois tsunamis em cima daquelas enchentes – de que o anti herói contra quem eu luto desde que pode me lembrar, fica menos superpoderoso à medida que o tempo me mostra que, dentro de mim junto a ele, tem também uma heroína.
Ela ficou dormente e passou despercebida com muita frequência ao longo dos últimos 10, ou mais anos. É uma coisa difícil crescer de uma criança prodígio para um adulto completamente comum e ordinário em que você alcança, ano após ano, momentos de realidade que, na expectativa – não apenas da sua mente infantil brilhante, mas de muitos ao seu redor que te viram crescer dizendo quão maravilhoso seu futuro seria, sua pequena maravilhosa! – soavam muito mais que incríveis. Extraordinários.
Pode ser que esses momentos de realidade fossem mais extraordinários se aquela pequena maravilhosa com um futuro brilhante tivesse passado menos madrugadas sendo ativa em alguma coisa como escrever textos num blog morto, ao invés de dormir. Se ela tivesse vivido os primeiros tantos anos da vida adulta sem um coração partido pra trazer de volta à vida, com medo constante de ter feito a coisa errada.
Foi culpa minha, o problema fui eu. É fácil tapar o sol com a peneira, embora não resolva nada, funciona pra quem está se sabotando. A falsa sensação de progresso que se mover pro lado errado trás, ao invés de se manter congelada de medo. É verdade, a culpa foi minha e qualquer um pode concordar. Mas eu estou cansada da auto-sabotagem.
Não precisava ser anti-heroína, ou heroína, pra ser protagonista da minha história. Não precisava ter gastado tanto tempo remendando, torcendo pra que essa versão guerreira; sonhadora; desesperada pra fazer sonhos impossíveis acontecerem, fosse a que vencesse. É horrível ser guerreira. É horrível estar sempre rodeada de conflito, batalhas e guerras. Mas foram muitas e muitas madrugadas que eu passei com a Taylor que me levou a perceber, entre isso, tantas outras coisas.
Então aqui estamos, prestes a concluir uma nova volta ao sol, com um frio na barriga gostoso que antes vinha quando eu tentava me colocar numa situação demasiadamente difícil pra testar minha capacidade de resolução de problemas – comportamento popular e corretamente chamado de auto-sabotagem. Mas o frio da barriga pode vir, eu espero, de alguma ansiedade gostosa por uma etapa nova que começa em que o objetivo não seja exclusivamente sobreviver. Eu realmente espero que ele seja por isso, e que os dias de anti-heroína tenham acabado.
Foram muitas meias-noites que passamos, Taylor e eu, e eu cheguei a concordar com ela nas mais recentes. Que estávamos ambas sozinhas, ela de um lado, eu do outro. Crianças, abandonadas numa festa de pessoas perfeitas e bem sucedidas, por alguém que me deu uma flor, e a última pétala revelou que mau-me-queria. Eu fugi, igual ela. Em álbuns, em relacionamentos, em carimbos no meu passaporte, dando sangue e lágrimas buscando a pétala do bem-me-quer enquanto os meus amigos de infância, também iguais aos dela, não sabiam o que dizer.
Foi importante acreditar naquilo. Me fez mais forte. Mas eu não era uma criança sozinha.
Eu quis sair. Eu quis, quando aquele que poderia ter me feito ficar, não fez. Não se importo. Meus sonhos eram absolutamente comuns, mas não comuns o bastante pra que ele quisesse vivê-los comigo. Tanto da vida são desdobramentos de decisões que tomamos por amor. Que tomamos por sonhar, por desejar. E eu queria estar sozinha, achei que estava sozinha. Mas de fato nunca estive. Quanto mais eu me afasto, mais sou buscada, resgatada, trazida de volta por aqueles que nunca vão me permitir ir.
São muitos. Estão em fotos há anos e embora já tenhamos divergido tanto em certos momentos da vida, eles me fortaleceram quando eu só era uma bola de neve de auto-sabotagem descendo descontroladamente uma montanha de consequências que eu não podia encarar. Eu queria que a Taylor soubesse, que mesmo pela arte não vale a pena estar sozinha. Que a dor que transformamos em palavras, em lições e corações costurados outra vez, não justifica a solidão – eu não estou, nunca estive, sozinha. Eu fugi, mas fui resgatada todas as vezes.
Nunca por quem eu achei que fosse me salvar. Nunca pelo beijo perfeito. As páginas viradas e as pontes queimadas, as coisas que eu perdi que jamais podem ser recuperadas, elas parecem coisas menos difíceis de sobreviver, batalhas menos difíceis dessa guerreira anti heroína vencer, com aquelas velhas pulseiras da amizade. Eu sei que eu sempre pude enfrentar qualquer coisa. As muitas Grande-Guerras que me fizeram sangrar e perder tanta tanta tanta vontade de vencer, que eu não sei como continuei, mas enfrentei, continuei.
Eu sobrevivi à maior de todas, Taylor. Sempre foi maior que eu, mas eu não quero ser soldada abatido mais. Chame as tropas de volta, eu não quero mais sobreviver batalhas. Eu quero viver. Não viver do jardim de memórias de quando as manhãs eram gloriosas. E é verdade, nunca vamos voltar pra ‘quele derramamento de sangue. Nunca vai doer tanto daquela forma. Mas eu sobrevivi sozinha, e agora sou de mim mesma. A última batalha, se você quiser chamar assim, ela me deu de volta pra mim mesma – e eu prometo, pra sempre ser minha.
Além mar, presa na bola de neve de auto-sabotagem que descia descontroladamente uma montanha de consequências que eu não podia encarar – pela última vez – na companhia das minhas velhas pulseiras da amizade, sendo a Taylor uma delas. Eu acho que a maior guerra jamais travada, sempre vai ser, pra derrotar essa anti-heroína, e tentar entender tudo aquilo que o soprar das velas anteriores nos poupou, enquanto estávamos assim tão determinadas a ficar apenas mais velhas, e nunca mais sábias.
Passamos por tudo juntas, Taylor. Mas acho que onde o derramamento de sangue todo me levou, não é pro mesmo lugar que ele levou você. Seguimos, já que eu jamais te abandonarei ou você a mim e é importante pra mim que sempre tenhamos uma à outra. Mas eu sei que essa criança pode sim ser deixada sozinha sem que isso gere crises – mas não sou. Cada vez que a anti-heroína tenta me largar à minha própria sorte,, a protagonista que quer viver, ao invés de sobreviver de batalha em batalha, me lembra de tudo aquilo que já conquistei no caminho. É maior que o céu inteiro.
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Se por via das dúvidas esse texto não faz o menor sentido, a produção recomenda ouvir ao som das quatro músicas favoritas dessa autora, do álbum mais recente da loirinha – Midnights 3am Edition. Aqui estão elas, por ordem de aparição no disco: Anti-hero; You’re on your own, kid; The Great War; Bigger than the whole sky.