carta para quando eu mesma não me bastar

Dia 28 de janeiro de 2018
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Sobre Textos

Querida, há tantas coisas que eu gostaria de te dizer mas eu não sei como.

Eu não acho que há alguém no mundo que se sinta como eu me sinto sobre você nesse momento. Sei que passou tempo  o suficiente procurando amor por aí nessa vida, e talvez ache que já é o momento de ter descoberto o que é pra fazer, mas vai ver esse é o tipo de resposta que não se tem; para o tipo de questões insolúveis, sabe?

As pessoas nunca são respostas, elas só podem ser perguntas.

E é de se admirar que você se contente com a vida que tem. Quer dizer, não que não seja boa: ela é boa, é legal, é ok. Mas preciso parabeniza-la, pois cair em tantos buracos de dor fervente e escaldante que teriam feito várias outras pessoas se derreterem, mas você, bem, sinto que a dor não foi o bastante para te desfazer.

Mas vai ser quando você entender que para cada construção é preciso um terreno limpo e sólido. Começar de novo como você espera requer, antes de mais nada, uma bola de destruição imensa trazendo abaixo os tijolos mal empilhados que você cimentou com paixão, no desespero de construir um lar às pressas.

Pode ser que não encontre as respostas em outras pessoas, porque elas só podem ser perguntas, mas se olhar bem atentamente para si mesma – se estiver de fato procurando – vai enxergar que a resposta é: Ainda não dói o suficiente.

Amanda nos ensinou isso: só pode cessar quando doer o suficiente.

Ainda acredito em você. Quero que saiba disso. Sei que pode ter se esquecido. Ei, garota!, grito a plenos pulmões para o espelho, eu ainda acredito em você. Ainda não dói o suficiente, e por isso você talvez ache que pode suportar, que tudo bem se sentir assim, que a paz não é um sentimento que você tem direito de possuir, de pertencer à ele. Talvez você ache que cair em buracos de dor fervente e escaldante é apenas o único jeito que a vida pode seguir, e que você pode – deve – suportar isso.

Mas vai doer. E ai, quando você achar que não tem mais jeito vai perceber que era isso, tão mais simples do que pensávamos: só pode cessar quando doer o suficiente, quando você der um basta com a doer através dela mesma, porque sabe, querida, a cura para a dor é a dor. Ela é o veneno da sua alma, você acha que vai morrer, mas quando dosa o suficiente ela te salva de todos os nãos e talvezes, dos sims que você sonhou sem saber – porque quando acordou já havia esquecido do sonho. O fim da dor te resgata para uma nova era, onde você é mais forte, mais consciente, mais confiante.

Pode até correr um burburinho pelas ruas, as pessoas vão achar que o fogo no seu coração se apagou. Você sabe o que cantam por ai, e é mesmo verdade, as estradas que temos de andar são sinuosas. É um fato, as luzes que nos levam até elas estão nos cegando.

E ainda tem muitas coisas que eu gostaria de te dizer mas eu não sei como, mas por hoje eu quero que seja capaz de olhar no espelho e saber que no fim das contas você é meu poço de paz, sonhos e proteção. O destino e a estrada. A dor e a cura. A fraqueza e a força. As perguntas e as respostas.

E talvez, – só, sabe, bem talvez – você é aquela que vai me salvar.

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com amor,
muito amor,
muito, muito amor,

cs