Eu costumava deitar embaixo de uma árvore bem grande e olhar pro céu azul procurando formatos em nuvens.
A imaginação é uma coisa poderosa e eu sempre tive muito dela, e, embora isso nunca tenha me feito sentir-me mais poderosa, me impediu de ter medo. Foi ali, olhando brechas de azul perfurarem galhos verdes enquanto as nuvens corriam e se desmanchavam em segundo plano que eu aprendi a criar.
Imaginar coisas que não existem como se elas estivem ali requer mais do que paciência. Requer fé. Imaginação é uma questão de fé. Uma nuvem pode se desmanchar a qualquer momento, e um coração pode, tão rapidamente quanto se formou, transformar-se em uma coisa qualquer. Um coelho vira um chapéu, uma espada vira uma máscara.
Embora nenhuma dessas coisas esteja de fato ali, você está. Você e a certeza de que aquelas coisas poderiam estar também. Imaginar não é a certeza de que uma coisa existe ou pode existir, mas não imaginar é a certeza de que nada diferente vai acontecer, portanto, imaginação é uma questão de fé.
Faz tempo que eu não deito embaixo de uma árvore bem grande e olho pro céu azul procurando formatos em nuvens, e às vezes eu acho que isso me tira um pouco da imaginação. Não que tire o que já tenho, mas me saboto em não exercita-la para que se multiplique. Imaginação é uma questão de hábito. Você começa com nuvens, e depois transforma qualquer coisa abstrata em uma coisa mágica.
Mas eu sei que as nuvens estão ali, sabe? E eu sei que eu posso começar a qualquer minuto, e eu sei que elas vão – ou pelo menos podem – acender uma luzinha azul de imaginação que vai aquecer toda a minha vida quando faltar fé. Fé uma questão de hábito. Nem todos os dias vão transformar coelhos em chapéus ou espadas em máscaras, mas você precisa começar de algum lugar.
Pensar em árvores me fez entender as lições mais valiosas que carrego. Aprendi, raízes antes de frutos, há muito tempo.
E embora às vezes isso seja fácil de ser ofuscado pela correria e ansiedade, o que eu precisava ter aprendido veio muito depois: sementes, antes de flores, porque beleza é uma questão de imaginação, e imaginação é uma questão de fé, e fé é uma questão de hábito.
Plante coisas boas. A sua vida não é uma desgraça. Encarar a realidade e saber das suas fraquezas e dificuldades não significa que tudo está dando errado. Tudo dar errado agora não significa que vai ser assim para sempre.
Repita comigo, a minha vida é bonita.
Repita até acreditar. Beleza é uma questão de… bem, acho que já deu pra entender.
Não reclame de cada mínimo detalhe do seu dia – da sua vida horrível e inútil, oh, que grande azar estar vivo!
Ter imaginação, ver beleza e ter fé não é uma questão de otimismo. Todas as pessoas vão morrer a qualquer momento, e todas elas tem batalhas muito mais dolorosa do que você nem consegue supor – desculpe, não era pra soar tão mórbido! – mas antes disso todas vão viver um pouco, e vencer um pouco, e, com um pouquinho de esforço, florir o mundo. Sua gentileza não vai salvar o mundo se você não puder ser gentil consigo mesmo.
Plante coisas boas.
E comece por você. Sementes, antes de flores.
Todos os anos tem primaveras, mesmo aqueles de nuvens tão pesadas que nem parecem se mover sequer pra cessar a chuva. Chuva, aliás, só floresce sementes já plantadas.
Plante coisas boas e acredite, por um dia só, que vai florir. Amanhã leia esse texto de novo, porque sobrevivência é uma questão de fé, imaginação e hábitos frutíferos. Acredite, meu bem, já há pessoas demais matando sonhos nesse mundo. Seja um jardineiro criativo ao invés de um coveiro conformado.
Imaginação não é sobre utopia. Transformar uma nuvem em um coração, um coelho ou uma espada requer, antes de qualquer outra coisa, saber que a nuvem está ali, pra começo de conversa. Azul não é a cor mais fria. É o que se enxerga através dos galhos quando não há nuvens para se imaginar serem qualquer outra coisa. Mesmo chuva, mesmo sementes, mesmo flores.
E você passou a vida acreditando que nuvens eram apenas algodões pendurados ali descuidadamente pra bloquear a luz, tsc.
“The creative adult is the child who has survived.”- Ursula K. Le Guin