Um coração quebrado não sabe pulsar.

Dia 10 de março de 2016
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Sobre Textos

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Não diz que tá mais uma noite sem dormir. Não me diz. Seria melhor se eu não tivesse que ouvir você dizer que não sabe o que rolou conosco. Seria melhor pra sanidade, melhor pra gastrite, melhor pra taquicardia.

O negócio dos relacionamentos é que o ser humano precisa fazer o que precisa fazer, e por mais que eu gostaria de dizer que eu fui aquela que te curou acho que na verdade eu te quebrei. Talvez você não tenha reparado, afinal, partir um coração não necessariamente envolve uma traição, uma discussão e uma batida de porta. Chega aqui perto que eu vou sussurrar um segredo: Às vezes a gente parte um coração um pouquinho de cada vez.

Assim como o amor nem sempre vem avassalador tirando nossos pés do chão e resumindo, numa mão dada à nossa, toda a segurança do mundo, o fim dele também pode ser sutil. Geralmente é. Ninguém acorda numa manhã de quinta-feira e diz: Bem, acho que não amo mais o grande amor da minha. Francamente, por que eu pensei que essa guria era o amor da minha vida, pra começo de conversa?

Não é assim.

O nosso cérebro vai catalogando as coisas que gostamos de sentir e as que não gostamos e associando isso com certas pessoas. Então quanto mais tempo dura um relacionamento maior a quantidade de sensações partilhadas entre o casal. É apenas natural que ali enterradas no meio das alegrias tenham algumas decepções, né?

É mesmo? Você acha?

Vai depender do peso que cada um atribui para os fracassos. Internamente acho que possuímos uma balança emocional e às vezes dá na telha que uma decepção significa tão mais do que 21 alegrias. E quanto mais peso atribuímos a essas decepções menos enterradas e mais perto das superfície elas vão ficando.

A muitos escapa a percepção de que poderíamos ter atribuído um valor diferente. Poderíamos não, podemos. A vida não nos conduz, nós a conduzimos, e seguimos magoando e sendo magoados não porque o Universo quis assim mas porque fomos a) orgulhosos, b) insensíveis c) egoístas d) mimados e) cegos f) imaturos demais para agir de outra forma, tomar outra decisão ou até relevar.

E se parte. Creck.

Como o celular cuja tela quebrou quando você, desastradamente, o derrubou o amor se fragmenta em frações menores que não são o suficiente para formar a imagem completa. Falta aquela coisa dentro de nós. Alguma coisa se perdeu na queda, aquilo que permitia aos pequenos pedaços se unirem para formar um belo quadro. E a sensação é de que nada nunca vai pulsar novamente chega bem de mansino e se instala ali no cantinho mais empoeirado.

E o que era “Para com isso, eu te amo, tá louca?” vira um “Eu te amo muito, mas não gosto mais de você.”, o que era um “É claro que vamos superar isso juntos.” vira um “Eu te amo, mas não como antes.”, o que era um “Vamos viajar, casar, ter filhos.” se torna um “Eu não te amo mais.”, o que era um “Não tem nada que eu não faria por você.” se torna um “Eu não quero mais fazer isso.”

E nós nos acostumamos tanto a ver conforto, alegria e futuro naquela pessoa que a gente também se parte. Veja bem, um término nunca é fácil para ninguém. Se for é porque não há sentimento. Um término é uma perda, uma morte, uma ausência. É natural que haja um luto, um sofrimento, uma adaptação.

Então não me diz que passou mais uma noite sem dormir se remoendo e sofrendo por tudo que podia ser e não foi, por tudo que devia ter feito e não fez.  O negócio da vida é que às vezes a única coisa que podemos fazer é aquela única coisa que vai nos completar e nos fazer sentir vivos novamente. E nenhuma pessoa pode ser isso para a outra.

É por isso que às vezes precisamos fazer o que precisamos fazer. E isso não é da conta de ninguém. O problema é que ninguém nos avisa que o “doa a quem doer” dói muito, principalmente àquele que o proclama sem perceber o que está fazendo.

Acho que o que eu gostaria de ter dito na última vez que nos vimos é: Não se preocupe, parece muito ruim agora mas você vai se sentir melhor. Às vezes passamos por coisas que nos quebram e nos mudam e sofremos, mas é assim que aprendemos a ser o nosso próprio herói e salvar a nós mesmos. Não espere que ninguém vá te salvar.

A vantagem de estar quebrado é tentar encontrar aquilo que vai nos juntar em um só pedaço novamente. Um dia alguém vai te abraçar tão forte que você talvez seja capaz de sentir cada parte se juntando a outra novamente como se nunca tivessem se partido.

Espere, vai pulsar.

  • GABRIELA LOPES
    dia 10 de março de 2016

    Meu amor, sempre vai voltar a pulsar esse coração mais lindo e cheio de amor. Lindo texto como sempre.

  • dia 10 de março de 2016

    Fico me perguntando: como é que a vida pode ser tão sincronizada, cara? Não sei se é o Universo, ou o destino, ou a sorte, ou só essa conexão doida que eu e você temos, mas ainda me pergunto – faço isso todas as vezes que leio um texto seu, na verdade – como é que você sempre escreve aquilo que preciso ler. Às vezes, eu vendo meus olhos pra vida e, no mesmo dia, cê escreve algo pra me fazer enxergar que existe muito mais no mundo e que nada é para sempre (e, de certo modo, acredito que isso é ótimo. Acho que o tal “para sempre” estagna a gente no mesmo lugar e nos incapacita de encontrar um futuro – e tudo o que quero é ter algo além daquilo que revivo todos os dias). Obrigada por sempre, sempre, sempre me fazer lembrar que existe uma faísca em mim e que tenho que acreditar nela. Obrigada por sempre me fazer seguir em frente, te amo <3

    Love, Nina.
    http://ninaeuma.blogspot.com/

    • dia 10 de março de 2016

      Ahhh, recomendo um música: Hello My Old Heart, da banda The Oh Hellos <3

    • Carol Santana
      dia 10 de março de 2016

      @Nina Spim, Não sei explicar essa conexão mas fico feliz em saber que ela existe! <3
      Tô aqui pra tudo, flor!

  • dia 10 de março de 2016

    “Eu te amo muito, mas não gosto mais de você.” Um Dia? Me diz que você também pensou em Um Dia. Diga-me que você também pensou na Emma, mas, enfim… vamos ao que realmente importa. Quer dizer, não que a Emma não importe, mas, aff, você entendeu.

    Carol!! Você é tão maravilhosa quando quer e quando não quer. Garota que texto! De verdade, acho que aprendi tudo sobre blogs com a senhorita e talvez a sua personalidade também tenha me influenciado em tantas outras coisas que eu nem sei. Seja na fila do cinema haha, ou quando fui na sua casa assistir My Fair Lady ou quando de novo para comemorar o níver da tia Jo… enfim! Eu sou tão grata por te conhecer. Porque você entende! É exatamente isso e é assim que as coisas acontecem. “O negócio da vida é que às vezes a única coisa que podemos fazer é aquela única coisa que vai nos completar e nos fazer sentir vivos novamente. E nenhuma pessoa pode ser isso para a outra.” Posso escrever isso em todas as paredes de Uberlândia? Ou do meu futuro apartamento (Holly Golighly goals)? Acho que você deixa, eu juro colocar lispector, carolina na referência.

    Bem, divo como sempre! Tô aguardando aquele post sobre Kodaline (antes que vire modinha foi o melhor). Obrigada por ser essa escritora maravilhosa!

    • Carol Santana
      dia 10 de março de 2016

      @Ana Carol, Meu Deus, chego a tremer vendo um comentário tão maravilhoso vindo de uma pessoa tão linda que eu admiro tanto!
      Carol, que lindo ver você aqui me dando todo esse apoio. Eu sou super fraca pra comentar nos blogs alheios mas tem 5 blogs que eu SEMPRE LEIO, que é o seu, o da ceci, de uma menina que chama maria carolina (chama miragem real, recomendo!), o da nina (nina é uma), e o da karina rosa (isso não é um diário). E, embora eu mal comente neles, eu AMO ELES!
      Eu amo tanto a sua escrita, suas referências, a maneira que você consegue expor suas ideias e fica tão bonito de se olhar. PRECISAMOS VER OUTRO FILME JUNTAS! PODE SER QUALQUER UM (Funny Girl!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!)
      Salvei aqui seu texto de Meiguice para ler e já quero voltar a ver Downtown Abbey e tudo por sua causa!
      PODE PINTAR TODAS AS PAREDES! Meu Deus, eu digna de quote!!!! NUNCA PENSEI
      Vai sair uma playlist hoje, ou no mais tardar sábado! Tem MUITA coisa que eu preciso mostrar, meu Deus!
      Falar nisso você ouviu essa música que eu coloquei no início da postagem? Vamos fazer assim, você toca e eu canto!
      Fico feliz por ter sido uma influência para o seu blog, afinal, ele é um presente para o mundo.
      Beijos!

      • dia 17 de março de 2016

        @Carol Santana, <3 Se eu ouvi a música do começo do post? OF COURSE, DEARIE! Ameeeei. E ouvi Wickey Wickey, como você recomendou. Adorei também! Estou adorando todas as recomendações de músicas de amigos, ultimamente, parabéns para vocês! Já estou acessando todos os blogs que você mencionou e sim, vamos ver outro filme juntas. FUNNY GIRL IT IS! BEST OF BARBRA!
        E, não se sinta pressionada a comentar em minhas postagens. Só de saber que você acompanha e aprova, já me deixa contente contente como Pollyanna. E SUPER quero sua opinião sobre este texto em particular! E, mais uma vez, obrigada pelo elogio à minha escrita. Maravilhosa você!! Um beijooo. Aguardando a Playlist!

  • Pricilla
    dia 10 de março de 2016

    Carol, sua linda… Minha eterna ruivinha, amei o seu texto…foi bem forte. Beijo

  • dia 10 de março de 2016

    Carol, no sério, quando vai sair teu livro? Porque eu preciso de um exemplar em mãos urgente! Porque você escreve com uma urgência e uma verdade que me pega direitinho e eu sinto tudo que tá escrito – e até o que não está -. Relacionamentos são tão complicados, né? E esse tal de amor que a gente nunca vai entender e até hoje não sabe direito o jeito certo de sentir. Existe um?
    “Às vezes passamos por coisas que nos quebram e nos mudam e sofremos, mas é assim que aprendemos a ser o nosso próprio herói e salvar a nós mesmos. Não espere que ninguém vá te salvar.”

    Você despertou em mim a vontade de voltar a escrever. Não sei se vou retomar o hábito agora ou esperar até que algo aconteça, mas, desde já, obrigada.