15 segundos entre o vermelho e o verde

Dia 6 de julho de 2016
|
Sobre Textos
Sem título

Eu me lembrei de você hoje.

Estava andando na rua quando parei em uma esquina e olhei pra cima pra ver se o sinal estava fechado pra eu poder atravessar e BANG, fui atingida. Não era um motorista, não que você se importe, mas, estou bem. Fui atingida, abençoada, por uma visão do céu, que estava espetacular. Azul, daquele azul lindo que você ama, e traz paz de espírito, e com um monte, várias, infinitas, fofas e brancas nuvens por toda parte. Foi a coisa mais linda do dia.

Comecei a rir pensando que se fosse ligar pra te contar isso provavelmente eu ia me embaralhar toda e começar a gaguejar e fazer sons engasgados que geralmente eu fazia quando estava perto de você, do tanto que você me deixava nervosa, mas ai depois comecei a pensar, eu nem me lembro mais como eram esses sons, só lembro que você achava muito engraçado me ver tão nervosa a ponto de fazê-los.

As nuvens estavam tão fofas que eu me senti naquela fase do Mario cheia de nuvens, sabe? Que tem uns morrinhos verdes e a gente vai pulando neles e quando o pé do Mario toca no morrinho ele vai baixando até que se chegar embaixo você morre? É, aquela fase que geralmente o yoshi morre, sabe? Então, lembrei dela, e lembrei da quantidade de tempo e quantidade de risadas que gastamos jogando esse jogo, meu Deus, faz tanto tempo que essas lembranças parecem de outra pessoas implantadas aqui no meu HD com um pendrive externo porque, francamente, não tem lógica que tudo isso foi a gente que viveu.

Não foi, eram outras pessoas. Pra começar eram um casal, nós não somos um casal. Eram um casal e precisavam muito da companhia, da sorriso e da mão do outro segurando a deles pra serem felizes e essa não é nossa situação. Eles também podiam ligar um pro outro pra dividir coisas, como quando alguém da família perde o emprego, como quando alguém perde dinheiro na rua e fica muito triste, se forma, ganha bebê, perde 12 quilos, descobre uma receita nova, é promovido ou compra um carro, e, você sabe, esse também não é nosso caso, não podemos contar um com o outro para nada, porque aquelas eram outras pessoas e tudo que nós somos agora está longe de ser amor, amizade ou sequer empatia. Somos só estranhos no supermercado, alguém com quem se trombaria na fila do banco e pediria um “desculpe” amarelado.

Também lembrei de você porque eu vi um coelho nas nuvens e ai eu lembrei do dia que a minha irmã ganhou um coelho e ficamos brincando com ela no quintal daquela casa que eu morei, onde tinha grama, e depois eu pensei “gosto de coelhos”, e quando começo a pensar em animais automaticamente me vem à cabeça a imagem de você com uma coberta peluda e marrom envolta por todo o corpo se fingindo de urso e quando eu penso em ursos eu lembro daquela coisa medonha que fica sobre o seu guarda-roupas, e, francamente, doe isso pra um orfanato!

Na sequência eu lembrei que hoje é quarta e tem jogo, e que você provavelmente veria o jogo, lembrei que eu preciso escrever uma cena detalhada de um jogo de futebol para o meu livro e você disse que ia me ajudar a narrar isso, mas você nunca fez isso. Você nunca me explicou como funciona o futebol, nunca fez um buquê de origami pra mim e nem se importou se eu queria ou não usar aliança. Tem muita coisa que você nunca fez, então, por que de repente começo a me preocupar com as coisas que você está fazendo agora?

Não posso fazer isso, não tenho energias suficientes pra gastar me preocupando com isso. Não porque eu não me importe com você, ainda me importo um pouco, e te amo um pouco, é só que eu não gosto mais de você. É eu sei, muito Dexter e Emma, mas.. tem uma coisa que você nunca soube: a nossa história é exatamente igual à de Dexter e Emma. Você lembra de quando a gente terminou no primeiro ano da faculdade e depois de algumas semanas eu te liguei e pedi pra conversarmos porque eu queria voltar? Isso aconteceu depois de eu assistir Um Dia e decidir que nós éramos muito bons pra sermos tão burros quanto Dex e Em, bons demais.

Mas você nunca foi de ver, gostar ou realmente entender esse tipo de história, então, acho que não tem mesmo porque explicar como pode esse negócio de eu ainda te amar mas não gostar mais de você. Sabe qual é o problema dos relacionamentos? São sempre duas pessoas que escolhem começar mas uma delas desiste no meio do caminho e à outra só resta fazer o mesmo, e sabe do que?

Hoje tem jogo, mas nosso time perdeu porque não soube jogar junto. Cê é louco, Cachoeira? Que bagunça é essa que esses jogadores desorientados fizeram aqui no ataque? O amor é tão simples quanto tentar colocar uma bola numa rede enquanto 11 caras suados tentam te impedir: nem todo mundo é bom de bola, e eu sempre achei que você era o melhor dos jogadores, mas sabe quando uma pessoa fica muito tempo sem jogar que quando volta fica evidente que ela está tentando fazer o que fazia antes só que isso não funciona mais porque ela é uma pessoa diferente de antes, numa realidade diferente de antes? Então!

CARTÃO VERMELHO! Até daqui algumas partidas, vou jogando com um integrante a menos até lá. Do que é que eu estou falando? Eu não sei nada de futebol! Eu acho que o que eu realmente queria dizer era que: eu me lembrei de você hoje.

Opa, o sinal abriu.

 

  • dia 7 de julho de 2016

    Não sei o que escrever.
    Só sei que queria muito poder escolher parar de amar. Queria mesmo que o amor sumisse tanto quanto o gostar.
    Não foi um bom dia pra eu ler isso, aliás. Ou foi. Porque é o tipo de coisa que eu preciso ler e não tenho coragem.
    Obrigada <3