Amar é um verbo.

Dia 5 de julho de 2015
|
Sobre Textos

large

Eu estava em uma mesa de bar com uns amigos na semana passada depois do trabalho, e depois de alguns vários chopps que eles tomaram alguém resolveu levantar a questão do amor. Afinal, aparentemente pessoas em bares sem a total capacidade de raciocínio lógico, parecem ser as mais propensas a desvendar os mistérios do coração.

Estavam na mesa: uma amiga de quase trinta anos que nunca teve um relacionamento duradouro, uma amiga que foi traída pelo namorado que mora em outra cidade, o namorado dessa amiga – o qual ela perdoou – uma terceira amiga que foi traída pelo esposo, o esposo que por questões financeiras ainda mora com ela, mas está fazendo de tudo para ser perdoado e reatar o relacionamento, um amigo que levou um chá de sumiço de um cara por quem estava apaixonado e euzinha, que pelos últimos sete anos achei que estivesse muito bem, obrigada, nas questões do coração, mas isso se provou uma inverdade há seis meses atrás quando meu relacionamento de mais de meia década terminou.

Como você talvez possa prever, foi uma discussão um pouco longa com uma conclusão nem tão conclusiva assim. Mas eu voltei pra casa naquele dia e fiquei pensando o porquê de tanta gente querer racionalizar um sentimento que não faz o menor sentido. Aliás, ele faz todo o sentido se for sentido, mas não faz sentido se for racionalizado.

Pensando sobre isso também não cheguei tão longe, mas acho que é um sistema de controle que a pessoa faz, algumas vezes até involuntariamente, para sentir que pode entender e talvez por meio desse entendimento, controlar, o bendito sentimento.

Entrei na onda dos pensadores de bar com phd em elucidações não conclusivas, e cheguei ao seguinte resultado: Amar é um verbo, tem até conjugações. Eu amo, tu nem tanto, ele não se importa, nós nos separamos, vós ficais sozinho, eles não entenderam nada. Ou algo do tipo.

Pra ser verbo requer ação, e é nisso que muita gente falha, porque todo mundo quer entender o Amor – que é um substantivo e, portanto evidencia a substância, a essência de alguma coisa – mas quase ninguém quer entender o Amar – que é um verbo, e, portanto requer uma pessoa executando-a.

É um verbo que começa diferente, começa, por exemplo, com Ouvir. Você conhece uma pessoa e ela vai te contar algumas coisas sobre ela, então você vai Ouvir pra conhecê-la um pouco. Depois vem Entender, Respeitar, Encantar (-se), Compartilhar, Acompanhar, Dividir e de repente Amar. Às vezes muda a ordem, às vezes adicionam alguns outros verbos no caminho porque não é receita de bolo que tem um passo a passo e todo mundo que seguir exatamente daquela forma vai conseguir o resultado final. Mas funciona mais ou menos assim mesmo com as certas peculiaridades que cada relacionamento tem.

Mas não é simples assim, certo? Por que se fosse todo mundo que você conhece estaria feliz na companhia de alguém. E a verdade é que tem gente sozinho, muito bem, obrigado, e tem gente infeliz acompanhado, e tem gente que não sabe o que tá fazendo ou sentindo e ai resolve chutar o pau da barraca com qualquer um que tente oferecer uma coisa que eles não sabem, racionalmente, processar.

O motivo pelo qual isso acontece? Acho, que eles passam a ver Amar como um verbo completo e independente que não precisa de nenhum de seus antecessores, e se esquecem de que Amar só é possível porque houveram várias outras ações que juntas produziram esse sentimento. Ouvir, Entender, Respeitar e todo o resto fica em segundo plano porque acham que Amar vai se realizar por si só.

Você não precisa meditar sobre esse verbo se não quiser. Eu não tenho esperanças de que a minha pequena reflexão vá mudar alguma coisa na maneira como você enxerga essa ação. Esse texto é para os pensadores de bar com elucidações não conclusivas, se você não é um desses talvez não vá entender. Talvez você seja um daqueles que não liga para a construção de um sentido racional da palavra, e sim ao sentido do seu peito. Pra falar a verdade, acho que é assim que tem que ser, já que tem tanta gente amando sem razão não era sem tempo de a gente aprender que a razão não combina com Amar, que a razão não combina com Amor, e é por isso que tem gente até hoje esperando tudo mudar, mesmo que racionalmente isso não faça o menor sentido.

  • dia 23 de julho de 2015

    Carol, muito bom seu texto. Na verdade, estas conversas de bares sempre me impressionam – acho que o efeito do álcool deixa as filosofias das pessoas bem mais sinceras e abertas. Vocês formaram um grupo muito interessante aí, para discutir amor. É complicado, não? Mas de fato, esses verbos que acompanham a palavra – muitas vezes esquecidos – são extremamente importantes para construir o amor propriamente dito. As pessoas simplesmente ignoram, querem o que viram nos filmes sendo que a parte mais difícil – e no fim, enobrecedora – é justamente o conhecer, escutar, respeitar, entender. Enfim. Obrigada pela reflexão. Mil beijos.