Sobrevivi(emos)

Dia 8 de julho de 2015
|
Sobre Textos

 

pf

É engraçado como a gente sobrevive depois que um relacionamento morre. Quando estamos envolvidos em uma relação damos tudo de nós e aquele relacionamento passa a ser uma parte grande da nossa vida e de quem somos, então quando o relacionamento deixa de existir ficamos um pouco perdidos ali no limbo esperando alguma coisa acontecer, esperando para sermos felizes novamente, e o limbo vira um lugar confortável onde você não sabe quem é – porque achava que o relacionamento era quase tudo, e essa pequena porção da sua vida que não era o relacionamento parece pequena demais para preencher todo o espaço deixado pela ausência de uma relação – e não sabe o que quer fazer de agora em diante porque todos os planos que você tinha para a vida incluíam outra pessoa, e agora você precisa reescrever esses planos para que sejam planos individuais.

Mas tudo bem ser assim, e é por isso que esse período que a gente vive no limbo é confortável, porque é um tempo que você é obrigado a entrar em contato consigo mesmo e analisar o que quer. O fato de não ter ninguém por perto pra te dizer o que fazer só faz com que você seja forçado a tomar decisões por si mesmo, e por muitas vezes, isso nos faz crescer como pessoas. Então a gente sobrevive. Nunca pensando que isso podia acontecer, antes a gente achava que se o outro se afastasse a gente ia morrer. Não morre.

Hoje eu estava aqui pensando sobre você e me deu um apertinho no coração. Um apertinho no coração daquele tipo que fazia tempo que não dava, acho que é porque fazia algum tempo que eu não pensava em você. Mas hoje eu pensei e enquanto pensava me lembrei de várias coisas. Lembrei por exemplo, das viagens que a gente nunca fez. É uma coisa que sempre dissemos que íamos fazer e nunca fizemos. Achamos que tínhamos muito tempo.

Nós também tínhamos o costume de cozinhar juntos, agora eu prefiro comida de restaurante. Parece inútil cozinhar pratos individuais, e não tem diversão nenhuma ficar na cozinha sem alguém pra ficar rindo e conversando junto. A gente comprou uma edição especial do jogo que permitia que nos dois jogássemos juntos, mas isso também nunca mais aconteceu, pode ver, R$ 40,00 que nunca teremos de volta. Essas são coisas bobas e pequenas, mas eu fico pensando sobre o que poderia ter feito você abrir mão dessas coisas.

Sabe, todo mundo tem problemas. Você disse que estava passando por crises e conflitos que só poderia resolver descobrindo quem realmente era, e eu entendo isso. É muito fácil se perder. É muito fácil ter certeza de uma coisa, e depois ver que não era aquilo. É muito fácil não saber o que fazer depois. Mas eu não acho que seja fácil saber. Eu não acho que a gente pode se isolar do mundo inteiro e esperar que a solidão nos dê as respostas para os próximos vinte anos. O que eu acho, aliás, o que eu sei, é que as coisas importantes da vida a gente mantem apesar dos problemas. O que eu sei é que não é certo dizer Adeus a alguém porque ela é a melhor coisa da sua vida, e sentir tudo isso por alguém te impede de sentir outras coisas. Você pode até tentar não sentir nada por mim, mas ainda vai sentir outras coisas, ainda vai sentir todo o resto! Então se quis ficar sozinho na esperança de que a dor por estar perdido fosse diminuir, ou que você simplesmente não fosse senti-la, eu sinto muito, não vai funcionar.

Eu poderia ter sido sua bússola. Eu teria te ajudo encontrar o caminho certo. Eu teria feito isso, e teria ficado muito feliz em ser pra você quem você foi pra mim. Mas você queria encontrar o caminho sozinho. E quando eu lembro dessas coisas que você disse, sobre não saber, sobre ter dúvidas, sobre não ser, sobre estar perdido, tudo isso me faz imaginar o Pequeno Príncipe no deserto. Eu teria sido a rosa que te dá esperanças. Aquela rosa que fez com que o Pequeno Príncipe percebesse que sentia saudades de casa, sabe? Eu teria te dado esperanças, eu teria sido a sua rosa. Se você estivesse perdido e não soubesse o caminho de volta, eu teria sido a estrela que te indica a direção e se você tivesse feito um pedido, eu teria realizado.

Você nunca entendeu que eu teria sido tudo, porque você preferiu que eu não fosse nada. E é por isso que quando um relacionamento termina a gente acha que vai morrer, porque estar em um relacionamento é acreditar que teremos alguém do nosso lado em quem podemos nos apoiar quando precisarmos de conforto e ajuda, e é também ter a consciência de que existe alguém que vai se apoiar em você. Eu achei que você fosse se apoiar pra mim. Que eu seria seu Norte, sua Esperança e sua Direção. Mas você preferiu sua própria bússola quebrada que apontava lugar nenhum, um vaso sem flores e nunca olhou pra cima.

Mas a gente não morre. A gente vive.

Pode até ser uma surpresa quando nos encontramos de pé depois de uma tempestade, com uma bússola capaz de nos mostrar o caminho certo, uma rosa para não nos deixar esquecer o que é importante, e olhando estrelas no céu. Mas isso acontece, e não olhamos mais pra trás com arrependimentos ou dor. Às vezes a gente nem se dá ao trabalho de olhar, porque não tem motivos pra ver esperanças em quem não viu nada em nós.

 

  • dia 9 de julho de 2015

    Oi, Carol <3

    Vou continuar achando para sempre estranho, fascinante e engraçado o fato de seus textos sempre conseguirem exprimir algo que passo através de suas palavras e, com isso, me fazer sentir melhor. Quer dizer, hoje eu estou bem. Mentira, estou ótima. Acho que a minha tempestade passou. Não sei se você leu MVFS3, mas tem uma passagem do livro que o Rodrigo diz que vai para um lugar onde não tenha que se lembrar da Pri (tá, é um big spoiler, mas cê não pretendia ler esse livro, né? #sorry). Bom, acontece que, neste exato momento, eu sou o Rodrigo. É bom se afastar, ficar no limbo, num lugar onde podemos pensar com mais clareza e chegar à conclusão que, apesar de toda a felicidade ou tristeza de antes, há sempre um recomeço. Eu fiquei no limbo muitas vezes esse semestre e tudo o que sentia era dor. A dor era tanta que eu voltei a falar com Deus para ver se amenizava (coisa que eu não fazia desde que meu pai morreu). Acontece que, bem como você colocou, a gente não morre; a gente vive. Eu aceitei a dor, porque foi a única maneira de eu dizer a mim mesma que o que eu estava sentindo era real. E, depois de meses horríveis (horríveis mesmo; tive ataques de pânico toda hora, fiquei com insônia e perdi váários trabalhos da faculdade, simplesmente porque eu não tinha a mínima condição emocional de fazê-los), a nuvem negra que pairava sobre mim foi embora. E tudo o que fiz foi mudar de lugar (na verdade, parar de ir a um). E funcionou. Hoje, apesar de me lembrar das lembranças tristes e felizes, consegui, como você me ensinou, seguir em frente.
    A última frase é in-crí-vel. Mas, infelizmente, eu sempre fui meio masoquista. Sempre olhei para quem nunca viu nada em mim. Ou viu muito pouco.
    E quanto à bússola, eu sempre fui uma quebrada. Nunca sei qual é o meu Norte (seja no campo amoroso, ou qualquer outro). Sempre fui meio perdida, porque sempre esperei alguém me encontrar e tentar desvendar todos os meus problemas (não me orgulho disso, claro). E acho que ninguém inteiro merece alguém pela metade. Acho ok precisar do outro para algumas coisas, mas acredito que cada um precisa lidar com seus próprios problemas, afinal, só nós o sentimos de maneira plena. O outro pode tentar compreender, mas nunca vai conseguir chegar perto do que sentimos.

    Como sempre, lindo texto <3
    Love, Nina.
    http://ninaeuma.blogspot.com/

    • Carol Santana
      dia 31 de julho de 2015

      @Nina,
      Você como sempre me mata com seus comentários. O fato de eu conseguir te tocar com as minhas palavras é uma das coisas que me levam à seguir adiante com a escrita, muito obrigada. Estou lendo o MVFS3 agora, mas não se preocupe, eu não sou mais aloka do spoiler. Sabe que até estou gostando? Até agora tive a impressão de que foi o melhor livro da Paula, depois do MVFS2 eu achei que fosse detestar porque achei a Priscila uma pessoa muito diferente do MVFS1 e ai fiquei com raiva, mas estou curtindo, apesar de ainda estar me adaptando ao estilo da Paula, sei lá.
      Espero que essa sua aproximação com Deus perdure para sempre, porque Ele é a rocha sob os meus pés e eu não sei como continuar sem a força que vem dEle.
      Fico muito feliz em saber que a sua tempestade passou. A gente cai da escada algumas vezes antes de conseguir sair do limbo né? Às vezes sinto que tem uma força mágica lá embaixo que puxa meu pé sempre que eu tento escalar pra superfície.
      Mais uma vez, obrigada por comentar e ser essa leitora incrível <3