tem um preço que a vida dá

Dia 21 de janeiro de 2018
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Sobre Textos

É muito difícil responder “não sei” quando alguém me pergunta sobre como ele tá. Minha avó pergunta sempre, ela às vezes me pede pra dançar com ela, porque ele dançava toda vez que íamos lá. De vez em quando eu danço, e rio, mas não deixa de ter um certo aperto no coração.

Saudade é um sentimento louco.

Mas eu não sei como ele tá. É estranho viver coisas de tirar o fôlego, ter medos e conquistar coisas sem nem pensar em ligar pra ele. Eu me dou conta semanas depois, quando já passou e eu pude pensar sobre, que é o que eu teria feito instantaneamente, mas hoje essa possibilidade nem passa na minha cabeça, e a percepção disso é o que torna tudo diferente.

Mas eu não sei como ele tá. Espero que esteja bem, sempre vou desejar, eu acho. Já cheguei a não desejar nada, bem depois da dor, da raiva, da ausência de sentimentos.

É frequente eu não querer saber. Porque foram três as ocasiões em que me contaram coisas sobre ele que eu não podia imaginar, e me doeu. Foram duas as vezes em que ele me viu e fingiu que eu não estava lá. Então, é melhor não saber.

Mas às vezes, só, sabe, bem de vez em quando, numa tarde de quinta, correndo pelo parque, eu vejo as nuances do por do sol ofuscar o olhar de algumas pessoas que nunca conheci. O mundo está cheio delas. As pessoas que nunca conheci, é o que quero dizer.

Algumas são, inclusive, antigos conhecidos muito íntimos. Todos são estranhos, e eu espero que estejam bem, mesmo que eu não saiba de verdade; espero que estejam felizes.

E eu não sei dele, mas eu sei de mim.

Eu, que antes achava que a felicidade era estar com ele hoje estou feliz, porque finalmente entendi: a felicidade nunca pode ser mais do que reconhecer seu lugar no universo, e se sentir bem com ele, sabendo que nesse momento é o único lugar para se estar, fazendo o que você está fazendo após ter conquistado o que você conquistou e vivido o que viveu. Porque estar feliz e estar em paz, são sentimentos que nascem da mesma raiz.

Felicidade é pertencer, não a ele, mas a mim e onde estou. Não quero estar aqui pra sempre, mas amo esse lugar pois ele é único que me permite realizar tudo que eu preciso pra chegar onde sonho. A saudade é um sentimento louco, mas a felicidade é desafiar a gravidade e confiar nas suas próprias asas. 

Confie em mim quando eu digo: tem dias que não dá pra ser mais feliz.

Então, às vezes eu lamento que ele tenha se tornado apenas uma das pessoas que eu nunca conheci – e sei que vovó lamenta que ele não esteja mais lá para dançar com ela – mas mesmo toda essa gente que cruza comigo quando corro pelo parque, todos esses estranhos que nunca conheci, eles tem seus lugares no mundo e eles também podem ser felizes nele, se amarem esse lugar e descobrirem que, por hora, pertencem à ele.

Eu continuo respondendo “não sei” quando me perguntam, mas espero que ele esteja feliz. Hoje eu entendi onde pertenço, o que preciso fazer aqui, e por quem e como – e como às vezes acontece apesar de todos os outros degraus que ainda não escalei, das pessoas que nunca conheci, das tantas milhões de coisas que ainda não fiz ou dos vôos que não me lancei, eu me reconheço onde estou e sei que não dá pra ser mais feliz. E eu desejo isso pra todo mundo, os que conheci e os que desconheci, os amigos e os estranhos e a ele também, que em algum lugar no tempo acaba se encaixando em um desses espaços.

  • dia 25 de janeiro de 2018

    Que texto incrível, nada melhor que perceber que nossa felicidade depende de nós e não de outro alguém. óbvio que gostávamos de quem eramos, mas nem por isso, significa que eramos realmente felizes.
    beijos

    • Carol Santana
      dia 13 de março de 2018

      @Tay Ribeiro, obrigada mana! =)
      fico feliz que tenha gostado e ainda mil vezes mais feliz em saber que consegui passar a mensagem, sabe?
      <3 <3 <3