Do que aprendemos sobre exposição e aceitação (ou como a gentileza vai salvar sua vida)

Dia 26 de abril de 2020
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Aconteceu aquele negócio que a gente (ok, vai: só eu) já sabia que aconteceria: eu voltei a postar sobre meu corpo, minha alimentação, uma jornada saudável para o emagrecimento e o não culto ao corpo, mas ao bem estar no perfil do IG @horinhasdecuidado.

Criei aquele perfil em 2016 quando perdi muito peso e fiquei muito magra. Falei sobre corpo nesse blog em diversas ocasiões, tendo sido as principais delas; em 2016 quando escrevi uma carta de perdão a mim mesma por todas as vezes que não usei um short por ter vergonha das minhas pernas; quando fiz uma outra carta à todas que já usaram camiseta por cima do biquíni na piscina, mas não acho que eu tenha realmente explicado como a jornada de entender minhas falhas – e abraçá-las – foi importante para minha auto estima em aspectos que vão muito além de me expor numa piscina com celulites e dobras à mostra sem me importar com o que as pessoas vão pensar.

O que as pessoas vão pensar é, afinal, uma pergunta que permeia a mente de um tipo muito peculiar de imaginação. E eu não sou psicóloga ou socióloga para dizer os porquês disso acontecer, mas eu gostaria de dizer o que não acontece quando não deixamos que as possíveis reprovações de alguém nos impedem de tentar.

Primeiro eu acho que é importante entender que falhar não é um problema. Não é o que almejamos e certamente não é o resultado final. Mas é uma parte do processo. Meu Deus, como nos falta entender que existe mais coisa para além do fracasso. Que não conseguir não significa não sermos a pessoa que vai conseguir, mas que jornadas são – todas! – pautadas em tempo de amadurecimento. Todas as sementes passam por estações e a única coisa além do crescimento que determina se ela vai crescer ou não é se ela foi plantada.

Se eu não planto por medo de falhar eu me protejo dos invernos e fracassos, mas eu também não cresço, porque impeço o processo de acontecer, e quem perde com isso?

Quando eu comecei a não mais usar camiseta na piscina porque o que as pessoas pensariam ou não ao meu respeito sinceramente não era da minha conta, eu entendi que tudo na vida é sobre exposição e aceitação. Se eu não exponho meu corpo eu impeço que os outros o rejeitem, porque eu espero a aceitação. Mas o que significa a rejeição dos outros quando eu me aceito?

Por que eu deveria não tentar uma coisa absurda e impossível com grandes chances de fracassos que vai dar munição para as pessoas me julgarem e dizerem que não fui o suficiente se eu sei que eu fui tudo que poderia ter sido naquele momento específico e o fracasso me deixou um passo mais próximo de ser a pessoa que conseguiu?

Eu não acho que já sou tudo que preciso ser. Eu não acho que ter sido tudo que eu poderia ser é o mesmo de nunca me tornar mais. Tudo que existe no meio é o processo.

Eu não acho que meu corpo é perfeito, e tampouco eu amo tudo sobre ele. Tampouco eu acho que posso me afastar dele para fingir que dói menos: eu sou ele, sim, apesar de também ser mais; muito, muito mais; eu não vou deixar de ser ele também. Limitar o que somos ao que os olhos podem ver é limitar nossa identidade a um escudo anti falhas e julgamento que nos abraça por parecer acolhedor, mas tolhe tudo que ainda não nos tornamos; mas podemos, se tivermos apenas a ousadia de falhar no processo.

Não está incluso nas minhas expectativas ser perfeita. Tudo bem por mim se eu não for pois estarei aprendendo com meus erros e se um terceiro achar que não sou perfeita e falhei, tudo bem, pois é verdade e sei disso. Da mesma forma que não vou – não mais! – deixar de ir à piscina por não ter o corpo que as pessoas esperam que eu tenha para poder me sentir bem com a exposição, eu também não vou – não mais! – deixar de arriscar coisas por medo de me sentir exposta ao fracasso.

Entender o fracasso como uma etapa te protege de parar e se recolher na segurança das conquistas passadas quando ele chegar. Você pode continuar depois dele. Começar outra vez. É tão poderoso saber como não fazer as coisas! Saber o que podemos esperar de nós mesmos, e o que nos aquece o coração e o que detestamos – mas precisamos fazer – e o que não somos bons mas vamos ter que encontrar formas de fazer mesmo assim porque precisamos fazer.

Não vamos ser bons em tudo; não vamos fazer apenas o que somos bons. Sendo assim o fracasso é uma parte essencial em tornar-se bom. Tentativa & erro. Tentativa & erro. Aprendizado. Tentativa & erro. Aprendizado. Aprendizado. Tentativa & acerto.

O ano é 2020. Eu tenho 26 anos e não estou nenhum pouco próxima de realizar os maiores sonhos da minha vida. Todos eles envolvem milhares e milhares de processos que eu não domino e por vezes sequer sei por onde começar. Não estou rica, não amo meu trabalho, não estou em um relacionamento incrível e apaixonante, tem dias que eu sequer consigo pentear meu cabelo porque me sobrevem um peso a respeito de coisas que eu não sou e não tenho. Tem muita coisa na minha vida que não está como eu imaginei que deveria estar ou que outros esperaram que estivesse. O que isso significa pra mim?

Bem, a essa altura eu posso dizer que não me sinto frustrada por “não estar onde achei que estaria” porque em primeiro lugar eu não sou mais a pessoa que imaginou aquelas coisas, e não sei se essa expectativa era de fato minha ou incutida em mim pelo que eu achei que seria considerado pelos outros como “sucesso”. Em segundo lugar porque todos os lugares que estive que não me couberam me deixaram muito confortável e aberta a estar nesse lugar onde estou; aqui comigo.

Mas eu também sei bem quais sonhos são esses que eu não conquistei ainda. E considero isso o meu maior sucesso, entende? Ser capaz de definir meus próprios sonhos baseado no que sei sobre mim e não no que os outros vão considerar digno de validação. Por isso, não acho que não ser rica, não amar meu trabalho, não estar em um relacionamento incrível e apaixonante e por vezes sequer pentear meu cabelo seja digno de rejeição ou um fracasso. Porque isso é parte do processo, e estar nesse lugar aqui agora não significa permanecer nele para sempre.

Mesmo aqui estou me transformando em outras coisas, aprendendo demais e entendendo que o que eu sou é uma parte muito grande do que posso me tornar, mas não é tudo que vou me tornar. Nossa história é parte do futuro, mas não é ele. Existe ainda aquela lacuna; os processos que posso ou não me lançar.

O que as pessoas vão pensar sobre isso? Eu não sei, eu não sou elas.
E se eu não for bom o bastante? E se você não for bom o bastante ainda? Como você vai se tornar a pessoa que é?
E se eu fracassar? E se o fracasso for uma parte da resposta? E se você estiver fracassando em respostas de perguntas que nem foi você mesmo quem fez?

Então, expondo tanto sobre meu corpo eu percebo que ele (ou seja, eu) foi reprovado em tudo que esperaram dele. Isso só é de fato um fracasso se eu tiver sobre ele as mesmas expectativa que os demais. Mas, sabe, isso facilmente se aplica sobre tudo na vida. 1. Aprender a ressignificar os processos e o fracasso. 2. Aprender que fracassar não é a pior – ou a última coisa – que pode acontecer.

Eu ainda acho que aprender a não ter medo de mostrar as falhas – sejam elas celulites na piscina, ou uma conta de luz atrasada que você perdeu o controle financeiro e não pôde pagar, ou os seus papéis de divórcio, ou o seu diploma que você conquistou e guardou na gaveta para nunca mais usar, ou o que quer que seja que tenham te dito que você deveria ter e ser e você ainda não é e não tem – é o que determina os lugares aonde chegaremos, porque ter sido alguém que falhou significa, impreterivelmente, ter sido a pessoa que tentou: quando aprendemos com isso nos aproximamos de ser a pessoa que conseguiu.

A gentileza para conosco, e o respeito à nossa história é o que nos lança em direção ao futuro.

  • dia 16 de maio de 2020

    Oi, Carolina! Você escreve tão bem! Achei lindo o que você falou sobre sonhos. Olha, essa coisa da falha, da perfeição, do corpo, da aceitação, do perdão, cara, tem tanta coisa! Agora estou com 32 anos, e acho que foi só ali beirando os 30 que eu realmente resolvi aceitar que eu não era perfeita e nunca seria. Sempre fui “acima do peso” mas nunca tentei efetivamente emagrecer, dieta é uma coisa que nunca fiz, por exemplo. Porém eu tinha vergonha do meu corpo, não gostava de me expor… e bem, apesar de agora ainda não me expor, eu já não sinto vergonha de usar tamanho G, GG… resolvi que não vale a pena. A gente tem tanta coisa boa sobre nós, tanta saúde, conquista, qualidades… um corpo é apenas um corpo, que nos proporciona tantas experiências!